Fundição Progresso, Lapa, RJ (04/09/11)
Por: Dan Frehley
Lembro-me de cerca de 10anos atrás, meu irmão, que tinha o costume de pegar uns álbuns com meu primo emprestado, chegando em casa com um álbum que possuía uma capa muito interessante. Ele me disse naquela tardinha: “Eu trouxe este CD porque achei a capa dele maneira.” Naquele ato inocente, meu Irmão (Mick Michael) nos apresentava uma banda que passaria a ser uma das maiores que já ouvi – Blind Guardian. O álbum era o Somewhere Far Beyond (1992).
E de lá para cá, a paixão pela banda só aumentou. Confesso que teve seus momentos baixos, como uma relação comum de casais (quando o baterista original saiu em 2005, Thomen Stauch). Mesmo assim, meu carinho por eles sempre foi enorme e minha admiração maior ainda. Desde então, sempre me foi um sonho ver-los ao vivo, sem contar que sempre considerei o Blind Guardian uma banda maravilhosa, quando o assunto é executar suas músicas ao vivo. Foram 10 anos sonhando, até o domingo dia 04 (de setembro de 2011) que me será eterno.
Foram umas três semanas antes do show que fiquei sabendo do espetáculo na Lapa. Desde março deste ano, que já sabíamos (meu irmão e eu) da volta da banda ao Brasil. Mas a única data na ocasião era em São Paulo. Aos poucos, novas datas surgiram, mas no RJ não havia nada. E quando as esperanças estavam quase entrando no ralo, meu irmão apareceu com a gigantesca novidade: show na Lapa. Nem acreditei!
No dia 04, o dia do Show, na madrugada, viu um set list de um show da banda no Chile. No tal set list, haviam poucos clássicos por assim dizer – afinal, para quem é fã de verdade, todas as músicas são bem vindas. Então, o sonho para ver algumas músicas em especial ao vivo ficaram fracos, pois comecei a me basear no set list do Chile, apesar deles não ter anunciado nenhum set especifico para o show na Lapa. Mesmo assim, não deixamos de acreditar.
Na parte da tarde do dia, me encontrei com meu irmão no local do show. Sinceramente, esperávamos poucos fãs e rockeiros por lá. Isso porque o RJ tem andando muito em baixa nos últimos anos quando o assunto é Rock. E para nossa surpresa, o Fundição Progresso lotou! Aos poucos, o pessoal foi chegando e enchendo a rua do show, a ponto da fila passar a dobrar a esquina. Os ônibus e os pedestres que passavam pelo local deve ter se perguntado o que era aquilo. No coração da Lapa, famosa pelo seu sambinha, um bando de pessoas de preto, algumas de cabelos compridos, para uma eventualidade que não acontece sempre – o que é uma pena aqui no RJ. Havia também os clássicos vendedores, que sempre aparecem e ainda mais com mercadorias que não encontramos tão fácil, e são nessas horas que todos viram fãs da banda só para arrumar o seu. E claro, os vendedores de bebida (só assim para passar o tempo na fila).
Após cerca de 1 hora e meia, por volta das 21:30, o local já estava cheio. Não havia divisão entre vip ou pista, e mesmo o local tendo arquibancada, a pista foi a única opção a todos. Foi neste momento que meu irmão e eu percebemos que estávamos no meio do “furor” - estávamos a uns 5 metros de distancia da grade que separava para o palco, isto no começo do show.
Foi quando começou a introdução da belíssima “Sacred Worlds”, música de abertura do mais recente álbum At The Edge of Time (lançado em 2010). Realmente uma linda música! Foi nessa hora, com a entrada da banda no palco, que os dez anos de espera foram muito bem recompensados. Puxa, “eram eles mesmo e bem pertinho de mim” foi o que pensei quando o show estava apenas começando. Para a nossa surpresa, o Fundição não só encheu, como também, todos ali eram mesmo fãs da banda. Coisa raro de vermos hoje em dia. E ainda na primeira música, a banda já havia ganhando o publico.
Logo vieram os clássicos da banda, que tanto me imaginei cantando com eles, “Welcome To Dying” e “Nightfall”. O público cantando junto com a banda tornava tudo mais belo e mágico. Cantando cada trechos e os clássicos refrões tão marcantes, que apenas bandas como o Blind Guardian sabe fazer. Vale dizer que jogaram uma toquinha com as cores da bandeira da Alemanha no palco, onde o vocalista da banda Hansi Kürsch a pegou e colocou perto da bateria de Frederik Ehmke – que por sinal mostrou ser um incrível baterista, com uma excelente performance durante todo o show.
A bandeira do Brasil já estava aos pés dos bumbos da bateria, eu estava sem voz e já havia chorado muito, quando começou a bonita “Fly” com a companhia dos muitos aplausos. As mudanças de ritmos que há em diversas músicas da banda é algo de nota. Pois ao vivo é muito mais belo, e com o Blind Guardian, é muito melhor. Acho que no fundo, a mensagem daquela bandeira aos pés da bateria simbolizava como o Brasil estava diante da nova turnê de BG – estávamos saudando um grande e poderoso rei.
E foi saudando este rei, que saudamos mais um na próxima: “Time Stands Still (At the Iron Hill)”. Música baseada na história de um rei que toma uma decisão desesperada para salvar seu povo depois de um ataque mortal; historia que consta nos livros de J. R. R. Tolkien. Nesta hora em diante, nós não sabíamos mais que música esperar. Pois depois de “Fly”, qualquer música já nos era uma surpresa. E para mim, qualquer música era muito bem vinda. “Traveler in Time” e “Mordred’s Song” foram as seguintes; belas e marcantes. O publico chorava, viajava nas melodias e empurrava muito para lá e para cá. Aos poucos fui me distanciando do meu irmão, e a parti daqui, estava meio que longe dele. E foi nisso que veio mais uma do recente álbum, “Tanelorn”. Pude notar que o álbum foi muito bem recebido por todos ali, pois a musica também foi muito bem acompanhada.
A banda estava incrível em todos os momentos do show. Desde que entrou e saiu do palco, a banda foi maravilhosa. Sinceramente, eles foram muito mais do que eu esperava. O Blind Guardian nunca foi um exemplo de carisma e entretenimento entre o palco e a platéia. Sempre li muitas criticam sobre que a banda era nos palcos muito parada, sem uma presença marcante; mas não foi o que vimos e presenciamos. Muito pelo contrario. A banda estava bem animada e interagindo demais com o publico. Os músicos além de tocarem de forma perfeita e muito bem harmoniosa estavam bem animados e com muita presença. Muitas piadas foram feitas e muitas coisas contadas também. Isso me mostrou que o Guardian estava ainda melhor, e se mostrava ser muito maior do que eu imaginava que fossem.
Como o set list já me era uma surpresa, foi então que ele virou matador. Vieram em seguidas 3 clássicos inesquecíveis da banda: “Lord Of the Rings”, “Valhalla” e “Imaginations From the Other Side”. Eu lá, cada vez chegando mais perto do palco, e cada vez chorando mais. Cada uma com seu destaque. Não esperava que tocassem essas, com exceção de “Valhalla”, mas que ótimo que tocaram. “Lord Of the Rings” com sua belíssima melodia, seguida pelo coro uníssemos do publico; “Valhalla” a tão esperada, com um refrão muitas vezes cantando no final da musica seguido pelas forte batidas de Frederik na bateria; e a letra tão marcante de “Imaginations From the Other Side”. Um trio matador para qualquer um. Eu não esperava, e cada uma foi mais bela que outra. Mesmo sem voz e com a garganta doendo muito, não pude deixar de cantar junto cada uma das músicas.
A banda deu uma pequena pausa, voltou com a “Weel Of Time” – música que fecha o recente disco da banda. O Blind Guardian abusando dos efeitos de orquestra em suas musicas, tornando-as cada vez mais belas. Neste momento foi à hora da mais sonhada música de todo o show: “The Bard’s Song – In the Forest”. Quantas vezes eu cantei esta musica em casa sonhando em estar lá no show também. A platéia se mostrando presente e acompanhando a banda em todas musicas e o tempo todo, não fez feio nesta hora. E assim nos encaminhávamos para o encerramento com “Mirror Mirror”. Um encerramento que seria já perfeito por sinal.
Seria? Bem, o final mesmo não foi este. O que me fez ver ainda mais o que é Blind Guardian. Após a execução de “Mirror Mirror”, a banda começou a agradecer ao publico e a despedir. Nisto começou um forte corro pedido a música “Majesty”. Sinceramente, ninguém esperava que eles fizem o que fizeram. A banda resolver tocar-la, e com o anuncio “more a song” fomos ao delírio. Era a deixa para o show ser, ou ter mais um motivo, para ser eternizado em nossos corações. Eu vi o set list no pedestal do guitarrista ritmo Marcus Siepen, e “Majesty” não estava mesmo na lista das músicas. Mostrando que pelo improviso, a banda a tocou perfeitamente.
Com muitos aplausos, e muitos mesmo, a banda se despedido de nós cariocas com uma expressão no rosto que dizia o quanto eles gostaram de ter estado conosco. Que bom que eles vieram para cá. O show havia chegado ao fim e as luze começou a se apagarem, com gritos de agradecimentos e aplausos.
Sem duvida jamais me esquecerei desta noite. Em março deste ano, meu irmão e eu estávamos no show o Iron Maiden, e cometamos que esse era nosso “Rock In Rio”. O Blind Guardian pode ser dizer que era o nosso segundo dia do “nosso” Rock In Rio, sendo que ainda tem mais pela frente com Whitesnake e Judas Priest.
Impecável e tão significativo, a banda vai passar pelo resto do país e seguir com sua turnê mundial. A mim, foram 10 anos de espera, mas valeu cada dia sonhado em estar lá. Valeu também ficar uma semana sem voz e com dor de garganta. Afinal, Blind Guardian não é todos os dias. Parabéns a eles pelo perfeito show, e que voltem sempre ao Brasil e ao RJ.
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