terça-feira, 4 de outubro de 2011

Uma Noite com duas lendas do Rock.

Whitesnake & Judas Priest

Citibank Hall, Barra, RJ 11/09/11

Por: Mick Michael

O título da resenha resume em poucas palavras o que aconteceu no domingo do dia 11 de setembro de 2011. Revivendo a parceria realizada em 2005, Whitesnake e Judas Priest estavam de volta ao Rio de Janeiro para presentear os fãs cariocas com mais uma noite memorável. Mais uma vez o lugar escolhido para esta linda celebração ao Hard e Heavy Metal foi o ótimo Citibank Hall, localizado na distante e isolada Barra da Tijuca. Exatamente uma semana depois de presenciarmos uma grande apresentação do Blind Guardian, na Fundição Progresso, no Centro do Rio, estávamos mais uma vez encarando outra fila, além das adversidades do tempo, que cismou em fazer cair uma chuvinha chata, daquelas que molha, mas não vem de vez. De fato é uma luta assistir a um show de alguma das suas bandas favoritas, mas na hora que você vê seus ídolos no palco, não tem jeito, todos os perrengues das horas antes da festa ficam pra trás. E não foi diferente dessa vez, apesar de que o maior aperto ainda viria depois do show, com uma madrugada torturante no frio, mas aí é outra história...

A abertura da casa pode ter ultrapassado a hora marcada no ingresso (apesar de ter sido apenas 10 minutos de atraso), mas a pontualidade britânica se fez presente e o Whitesnake iniciou sua apresentação exatamente às 21:30, surpreendendo o público carioca, já acostumado com atrasos em grandes shows. Utilizando uma produção mínima, que contava apenas com um pano de fundo com o logo da banda, além de terem usado apenas a metade do palco, que já tinha o cenário do Judas montando na parte de trás, a lenda do Hard Rock subiu ao palco de forma discreta, tendo a frente seu líder inigualável David Coverdale (vocal), mantendo toda sua postura de rockstar, cheia de poses, caras e bocas, além de um visual tipicamente Hard. Além de Coverdale, a banda também conta com os excelentes guitarristas Doug Aldrich e Reb Beach, Michael Devin no baixo e o ótimo baterista Brian Tichy, todos bem competentes e performáticos. Depois de cumprimentar os poucos mais de 6 mil fãs presentes, iniciam o show com Best Years, do álbum Good to be Bad, de 2008, trabalho que marcou a retomada de David, que a tempos vinha num para-mas-não-morre com o Whitesnake. A recepção do público ainda foi contida, mas na sequência veio Give Me All Your Love, que animou mais a galera. Porém foi com as duas musicas seguintes que o Whitesnake elevou o êxtase de seus admiradores. Love No Ain’t no Stranger colocou o Citibank para agitar e Is This Love, maior sucesso comercial da banda, embalou o lugar num belo clima romântico. Vale lembrar que esse lance de acender os isqueiros já passou e a onda agora é iluminar o local com as luzes das câmeras e celulares!

Depois dos clássicos oitentistas era hora de mostrar as canções do novo trabalho, Forevermore, de 2010, que foi representado com Steal Your Heart Away e a faixa-título, que traz uma bela introdução em voz e violão, para depois entrar um ritmo mais candeciado. Algo que jamais fica de fora num show do Whitesnake são os solos individuais. Eles podem até deixar um clássico de fora, mas os solos de guitarra irão rolar, pode ter certeza! Para começar essa seção, que sinceramente dispenso nos shows, Doug e Reb fizeram um duelo de solos de guitarras, com cada um demonstrando um pouco de sua habilidade. Não foi tão chato, mas preferiria ouvir algum som antigo da banda. Depois o restante do grupo retornou ao palco para tocar a também recente Love Will Set your Free, e então foi a vez de Brian Tichy executar um espetacular solo de bateria, que de fato agradou o pessoal. Brian, que já vinha roubando a cena durante as músicas, fez voar baquetas para todo o lado e ainda arregaçou a bateria com as mãos! Mas também sejamos claros, para assumir o posto que já teve nomes como Tommy Aldridge e Cozy Powell, tem que ser fera mesmo. A volta trinfual com os hinos Here I Go Again e Still of the Night foi de arrepiar, com o público agitando de vez! Para tornar a noite ainda mais especial, David fez um cover de sí mesmo (!) ao cantar à capela Soldier of Fortune, e depois fecharam o show com uma fantástica execução de Burn, ambas do Deep Purple, grupo do qual o vocalista fez parte no fim dos anos 70.

Diante de uma contagiante animação dos fãs, o Whitesnake deixou o palco sob calorosos aplausos do público, inclusive de alguns fãs do Judas que haviam dito antes do inicio do show que a apresentação da banda de Coverdale era dispensável. Apesar de estar parecendo aquela nossa tia que ainda se acha gostosa, David continua cheio de charme e bem, apesar de ter mudado um pouco a maneira de cantar. Mas ele manteve a voz grave tradicional. Senti a falta de alguns clássicos obrigatórios, como Fool For Your Loving, Guilty Of Love e Standing In The Shadow, que poderiam ter entrado no lugar dos solos de guitarra, mas... Tudo bem, o show foi muito bom.

Chegava a hora de conferir o show do Judas Priest, uma das bandas mais significativas para a história do Heavy Metal. Com mais de 40 anos de carreira, o Judas decidiu que está na hora de sair de cena, pelo menos com grandes turnês mundiais e esta turnê, batizada de Epitaph tour, é a despedida do conjunto das grandes platéias. Em menos de meia hora tudo já estava montado para o Judas, com uma enorme cortina preta com o logo da atual turnê tampando a visão do palco.
Às 23:15 todas a luzes do Citibank se apagaram, deixando o clima bem legal. Sem mais, as cortinas caem e o Judas Priest inicia sua apresentação detonando com Rapid Fire, do clássico álbum British Steel, de 1980, o trabalho mais homenageado da noite. Com suas tradicionais roupas de couro, poses e gestos, Rob Halford (vocal), Glenn Tipton (guitarra), Ian Hill (baixo), Scott Travis (bateria) e Richie Faulkner (guitarra), este substituindo K.K. Downing, que preferiu se aposentar mais cedo, aumentaram a empolgação dos fãs com as clássicas Metal Gods e Heading Out the Highway, uma de minhas favoritas. Se o Whitesnake optou por fazer um show sem apelar para efeitos pirotécnicos, o Judas Priest não economizou e trouxe para o palco tudo o que tinham direito! Além de terem criado um cenário com correntes espalhadas por todo o lugar e algumas referencias a sua carreira, também havia muita fumaça, fogos, lasers, panos de fundos que mudavam de música para música e um telão que projetava imagens dos álbuns homenageados, entrem outras cenas com referencias às canções tocadas. Mesmo que tudo isso já tenham sido usado por bandas como o Kiss e o Iron Maiden, tudo se torna impressionante aos nossos olhos.
Halford se mostrou simpático ao cumprimentar os fãs e dizer algumas outras coisas, mas foi cantando que ele arrasou (inclusive com nossos tímpanos que levaram dias para se recuperar!). Mesmo já tendo passado dos 60 anos, o vocalista continua com um timbre incrível, cantando da mesma forma como ouvimos as músicas nos álbuns!
O show prosseguiu com Judas Rising, Starbreaker, Victim of Changes, Never Satisfied, Diamond e Rust, ótimo cover de Joan Baez, e Dawn of Creation. Para cantar Prophecy, Halford usou um brilhantíssimo sobre-tudo e um cajado em forma de tridente. Parecia mais o Gandalf, o brilhante (rs!). Night Crawler, a clássica Turbo Lover, executada num palco repleto de lasers, num dos efeitos mais bonitos do show, Beyond the Realms of Death, The Sentinel, Blood Red Skies e The Green Manaloshi foram a pedradas seguintes, até chegarmos num dos momentos mais aguardados da festa, com o mega hino Breaking the Law. Especialmente nesta música, Halford não entoou um único verso, deixando para o público a tarefa de cantar a canção. Um lança-chamas que soltava rajadas de fogo ao lado da bateria tornou a cena ainda mais marcante! O baterista Scott Travis deve ter passado um aperto com o calor! Painkiller, outra considerada fundamental na carreia da banda, veio para fechar a primeira parte da apresentação.

Após uma pequena pausa para os fãs recuperarem o fôlego, o Judas Priest retornou com a medley The Hellion/Electric Eye. Em outro momento marcante, Halford entra no palco com sua tradicional motocicleta para cantar Hell Bent for Leather. Uma cena obrigatória nas apresentações da banda. Era a hora de saudar os fãs brasileiros de uma forma mais especial, e o Judas fez isso muito bem! Com Rob enrolado na nossa bandeira verde e amarela e diante do projetor mostrando também uma imagem da bandeira do Brasil, tocaram You’ve Got Another Thing Comin, onde incluse, Richie Faulkner tocou alguns trechos do hino nacional durante o solo. Então veio uma nova pausa e após alguns minutos o telão ao fundo começou a projetar a imagem de um relógio onde os ponteiros marcavam meia-noite. Era o ponto de partida para a banda fechar o show com Living After Midnight, outro grande hino do álbum British Steel.
Antes de deixar o palco, todos os integrantes ainda se abraçaram diante dos fãs, jogaram palhetas e baquetas, posaram para fotos e tudo o mais. O Judas Priest tem fôlego para continuar por mais alguns anos, porém havia uma pergunta martelando minha cabeça durante a noite posterior do show: depois de tantos anos de estrada, com vários álbuns gravados, turnês por todo o mundo, apresentações memoráveis, muito dinheiro, álcool e tudo o mais, o que realmente mantém bandas como Judas Priest e Whitesnake seguindo em frente? Acredito que seja o amor pelo que fazem e pelo que vivem, e isso eles tem de verdade!