(HSBC Arena, Barra, RJ, 27/03/11)
Por: Mick Michael
1° dia – A marca da incompetência e falta de respeito.
Graças ao carinho e todo o respeito que sempre ganhou em suas passagens pelo Rio de Janeiro, é claro que o Iron Maiden não iria deixar de incluir a cidade maravilhosa mais uma vez na rota de outra turnê. Desde aquele sensacional Rock in Rio I, há mais de 25 anos atrás, é a 7ª vez que os fãs cariocas têm a chance de ver a Donzela de Aço ao vivo (as outras oportunidades foram nos anos de 1992, 1999, 2001, no Rock in Rio III, diante do maior público de sua história, 2004 e 2009). Desta vez, a banda inglesa, que mantém a mesma formação desde o ano 2000, com Bruce Dickinson no vocal, Dave Murray, Adrian Smith e Janick Gers nas guitarras, Nicko McBrian na bateria e o líder e principal mentor do grupo, Steve Harris no baixo, apresenta a turnê de seu novo e já aclamado álbum de estúdio, The Final Frontier, lançado no ano passado. Como de costume, o sexteto prometeu mais um grande show para seus admiradores do Rio, com todos os efeitos pirotécnicos habituais, um novo cenário de palco e os velhos hinos de sempre alinhados a canções do novo registro, que já ganhou discos de ouro e platina, alcançando fácil o 2° lugar na Bilboard. Nada mal para uma banda com mais de 30 anos de carreia e com uma discografia invejável, repleta de grandes registros que entraram para a história do Heavy Metal.
Bem, é hora de falar sobre o show em si, que deveria ser realizado no dia 27 de março, mas que infelizmente não pôde ser concluído. Ainda assim, irei relatar o que passamos naquele fatídico dia de domingo...
Meu irmão Dan Frehley (ou DannyFire, como é no blog) e eu chegamos ao local ainda cedo, por volta das 15:30 (segundo constava no ingresso, os portões iriam abrir às 18:30, e o show, aparentemente sem banda de abertura, começaria às 20:30), mas mesmo chegando com 5 horas de antecedência (uau!), encontramos centenas de fãs pelo lugar, já em fila esperando a abertura dos portões. Logo a área que estava destinada para o público aguardar a entrada na Arena havia ficado completamente cheio, com pessoas de todo o tipo: crianças, jovens, adultos, mulheres, casais e famílias. Mas a grande maioria com algo muito em comum, a camisa do Iron Maiden! Muitos iam além e também traziam consigo bandeiras, faixas e outros acessórios ligados à imagem da banda, ou do querido mascote Eddie.
Já havia passado das 18:30 e os portões ainda não havia sido abertos. Era a hora de começar uma série de equívocos proporcionados pela equipe de produção da Arena HSCB. Só meia hora depois os portões foram abertos, mas ainda houve certo tumulto devido a falta de informações, truculência de seguranças e outra inacreditável demora para liberar as catracas para a galera de fato entrar no interior da Arena. O relógio já marcava 19:30 e muitos fãs ainda estavam lá fora, sofrendo com a falta de respeito daqueles desgraçados que não sabem organizar um grande evento. E olha que realmente iria haver uma banda de abertura! A árdua tarefa ficou por conta da competente banda santista Shadowside, que pratica um Heavy Metal com toques góticos e muita melodia. Elementos que já se tornaram cansativos depois do surgimento de conjuntos como Nightwish e Epica. Mas o grupo se saiu bem, apesar dos “maiden maníacos” não estarem ali para curtir aquele tipo de som. O Shadowside fez um set curtíssimo, apresentando faixas do ultimo trabalho, Daren To Dream, e outras do 1° álbum. O grande destaque acabou ficando por conta da linda e talentosa vocalista do conjunto, Dani Nolden, que chamou a atenção dos marmanjos mais por causa de suas boas formas do que pelo desempenho vocal.
Às 21:00 horas, o Shadowside já havia terminado seu show a quase uma hora e praticamente todos os fãs já haviam entrado na Arena. Ficava o ar de ansiedade já que a banda poderia iniciar sua festa a qualquer momento. Um público de mais de 10 mil pessoas (segundo os organizadores, havia 13 mil pessoas) aguardavam o momento em que a música Doctor Doctor, da banda UFO (a preferida do líder Steve Harris) iria soar nas caixas de som. Há alguns anos ela tem sido uma espécie de anúncio do começo do show, sendo tocada momentos antes de a banda entrar no palco. E não foi diferente. Às 21:15, Doctor Doctor começou tocar nas caixas de som (interrompendo Rock and Roll all Nite, do Kiss, que havia empolgado mais do que a banda de abertura), e logo assim que terminou, todas a luzes do lugar se apagaram, sacudindo a galera que reiniciou os gritos de “Maiden! Maiden!” (Isso foi gritado o tempo todo, inclusive lá fora na fila!). Os roadies tiraram uma lona preta que cobria o cenário do palco e de imediato começou a introdução Satellite 15... que alinhava o som tribal da música, com imagens de um vídeo-clip, no estilo do filme Alien, o 8° Passageiro, transmitidos de dois telões nas laterais do palco. Ao fundo do belo cenário futurista, que misturavam elementos de uma área de testes espaciais com um planeta abandonado, centenas de luzes brilhavam, dando a impressão de estarmos olhando para o céu. Algo muito bonito e bem feito. A longa e enjoada introdução prosseguiu, até que tudo se apagou e de repente surgiu Bruce Dickinson segurando o pedestal. As luzes se acenderam e toda a banda entrou em cena já mandando a nova The Final Frontier. O público foi à loucura, agitando freneticamente! Todo o empurra-empurra acabou causando a quebra da grade que separava o pessoal da pista do palco. Isso ainda no 1° refrão! Apesar de alguns fãs ameaçarem subir no palco para tentar encostar em seus ídolos, os músicos continuaram a executar a canção, exceto Bruce Dickinson, que parou de cantar, demonstrando uma cara de preocupação com a situação. Enquanto Steve, Adrian, Dave e Nicko pareciam não se importar com o problema, principalmente Steve que agitava e andava de um lado para o outro, Bruce e Janick estavam visivelmente insatisfeitos com o incidente e acenavam para o público chegar pra trás, para que os seguranças tentassem concertar a barreira. Ao fim da canção, Bruce alertou ao resto do público sobre o incidente (eu mesmo não havia entendido por que ele não tinha cantado a música) e avisou que ele e seus companheiros iriam retornar ao backstage, mas voltariam ao palco assim que o problema fosse resolvido, em no máximo 10 minutos. Pronto! Depois de tudo que a precária produção da HSBC Arena já havia feito, ainda conseguiram se superar colocando uma barricada frágil, que obviamente não suportaria a pressão dos fanáticos fãs do Iron Maiden, que certamente queriam ficar bem perto do palco. Claro que não havia a mínima condição de se resolver o problema naquela noite, a não ser que esvaziassem a pista e trouxessem outra barricada, mais forte. Depois de quase meia hora de espera, onde um dos managers da banda tentou convencer o pessoal da pista a se afastar do palco para tentarem consertar a barricada quebrada, eis que surge o preocupado Bruce Dickinson diante de seus aflitos fãs para anunciar o adiamento do show, que só poderia ser realizado na noite seguinte. Apesar da chuva de vaias, que já vinha rolando desde o retorno da banda ao backstage, não teve jeito. O show ficou para a segunda-feira, dia 28, no mesmo horário.
Na saída havia um enorme ar de revolta, com pessoas socando e chutando portas da Arena, outras ameaçando processar o lugar e claro, também havia pessoas chorando já que não poderiam retornar no dia seguinte. Bem, meu irmão e eu saímos quietos, desapontados, mas com a certeza de que voltaríamos no dia seguinte para ver a maior banda de Heavy Metal da história. E vimos!
Continua...